+ Projeto Pedagógico do Curso

A mudança civilizatória sem precedentes, que tem nas mudanças ambientais globais a sua face mais visível, exige dos profissionais de educação uma abordagem da integridade da biosfera e da sobrevivência humana no planeta, que extrapola a visão meramente biocêntrica com que a educação ambiental tem sido usualmente tratada. Para isso, a Coordenação Geral de Educação Ambiental do MEC considera fundamental a formação continuada de professores e profissionais de educação numa perspectiva de educação ambiental interdisciplinar e transversal, em diálogo com o projeto político-pedagógico das escolas.

O Processo Formativo em Educação Ambiental: Escolas Sustentáveis e COM-VIDA considera a escola um ponto de referência comunitária. É fundamental fortalecer e potencializar a influência social das escolas, em um período em que a sociedade brasileira clama por (re)valorizar a educação. Neste momento da história, os debates sobre qualidade de vida carecem de estruturação e intenções que vão ao encontro de materializações objetivas e harmônicas aos processos e movimentos da natureza, sendo comprometidas com o presente e o futuro de todas as formas de vida, incluindo a humana. Neste contexto, a Educação Ambiental agrega aos processos de Educação valores de ética e cidadania, referenciados no viver cotidiano nos territórios considerando as realidades local e global. Introduz o cuidado, inclusive as referências ancestrais de cuidado dos diversos grupos humanos, como referência para as relações socioambientais.

Escolas sustentáveis são definidas como aquelas que mantêm relação equilibrada e de cuidado com o ambiente e que compensam seus impactos com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, de modo a garantir qualidade de vida às presentes e futuras gerações, são espaços educadores sustentáveis. Esses espaços têm a intencionalidade de educar pelo exemplo e irradiar sua influência para as comunidades nas quais se situam. A transição para a sustentabilidade nas escolas é promovida a partir de três dimensões inter-relacionadas: espaço físico, gestão e currículo.

Espaço físico: utilização de materiais construtivos mais adaptados às condições locais e de um desenho arquitetônico que permita a criação de edificações dotadas de conforto térmico e acústico, que garantam acessibilidade, gestão eficiente da água e da energia, saneamento e destinação adequada de resíduos. Esses locais possuem áreas propícias à convivência da comunidade escolar, estimulam a segurança alimentar e nutricional, favorecem a mobilidade sustentável e respeitam o patrimônio cultural e os ecossistemas locais.

Gestão: compartilhamento do planejamento e das decisões que dizem respeito ao destino e à rotina da escola, buscando aprofundar o contato entre a comunidade escolar e o seu entorno, respeitando os direitos humanos e valorizando a diversidade cultural, étnico-racial e de gênero existente.

Currículo: inclusão de conhecimentos, saberes e práticas sustentáveis no Projeto Político-Pedagógico das instituições de ensino e em seu cotidiano a partir de uma abordagem que seja contextualizada na realidade local e estabeleça nexos e vínculos com a sociedade global. O currículo define os conceitos e processos da relação currículo + gestão + espaço construído.

A criação de espaços educadores sustentáveis visa atender às ações elencadas como necessárias ao enfrentamento das mudanças climáticas. Por isso, foi inserida como iniciativa do MEC nas pautas interministeriais previstas no Plano Nacional de Mudança do Clima, constituindo elemento facilitador na prevenção e no enfrentamento de riscos ambientais e no fortalecimento do Sistema Nacional de Defesa Civil (Lei 12.340/2010).

A formação de Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (COM-VIDA) é fundamental pois trata-se de elemento estruturante na constituição de espaços educadores sustentáveis. A COM-VIDA é um colegiado que envolve estudantes, professores, gestores, funcionários, pais e comunidade com o objetivo de promover a sustentabilidade na escola em todas as suas dimensões, estabelecendo relações entre a comunidade escolar e seu território em busca de melhoria da qualidade de vida. A originalidade desse coletivo é estimular e fortalecer a liderança estudantil na definição dos destinos da escola. Orientada por esses objetivos, a COM-VIDA anima um espaço de construção coletiva do futuro que se deseja e, para isso, estabelece a “Agenda 21” na Escola. Este colegiado deve estar articulado com os conselhos escolares e de alimentação escolar, integrando-os e transversalizando as práticas e conceitos de eco cidadania, além de mobilizar a juventude para a consolidação dos espaços educadores sustentáveis.

Como espaço de diálogos, a COM-VIDA ajuda a escola, na atuação nos conselhos ou em parceria com os mesmos, a projetar e implementar ações visando um futuro sustentável.

Isso tem reflexos no exercício de cidadania, de respeito aos direitos humanos e à diversidade sociocultural, bem como na gestão do espaço físico da escola, aprimorando a eficiência no uso dos recursos e diminuindo o desperdício de água, energia, materiais e alimentos. A COM-VIDA pode influir na política de compras e na destinação adequada de resíduos, entre outras práticas voltadas ao bem-estar pessoal, coletivo e ambiental.

Nesse sentido, a transição para a sustentabilidade da comunidade escolar passa, necessariamente, pela criação, estruturação e fortalecimento da COM-VIDA, articulada com os conselhos. Isso envolve a destinação, pela escola, de espaço para o funcionamento desta comissão, bem como a realização de uma agenda permanente de ações, como diagnósticos da situação socioambiental, promoção de palestras, visitas guiadas, oficinas, entre outras atividades identificadas como necessárias pelo coletivo escolar.

A busca de sustentabilidade e a implementação da “Agenda 21” na Escola constituem exercício permanente e preveem alterações graduais no ambiente e na rotina escolares. Por isso, a Coordenação-Geral de Educação Ambiental do MEC trabalha com o conceito de “transição para a sustentabilidade”. Isso envolve o desenvolvimento de uma visão de futuro, o planejamento das ações para alcançá-lo e a busca de recursos para realizar ações identificadas como prioritárias, bem como persistência do coletivo escolar em alcançar as metas pretendidas.

O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), com financiamento específico para projetos de Educação Ambiental e ações dos processos de implantação de Escolas Sustentáveis, surge nesse contexto e preconiza a utilização dos recursos em ações que possam conferir visibilidade à intenção de educar para a sustentabilidade. A escola poderá utilizá-los em uma ou mais ações relacionadas ao espaço físico, à gestão ou ao currículo. É importante, porém, que as intervenções possibilitem à escola realizar uma experiência demonstrativa, que seja amplamente divulgada e estimule processos pedagógicos, tornando-se referência na promoção da cultura da sustentabilidade.

O conteúdo programático do curso propõe uma reflexão, discussão e a elaboração de um projeto de intervenção na qual a Escola possa gradualmente ter ações que a transforme num espaço educador sustentável, com a participação coletiva.

A partir do currículo e das ações de sustentabilidade definidas para que as escolas, em seus territórios, segundo a trajetória de seus povos, conflitos e potencialidades se tornem espaços educadores sustentáveis, são introduzidas referencia de tecnologias ambientais no curso de especialização em Educação Ambiental com Ênfase em Espaços Educadores Sustentáveis. Ecotécnicas são tecnologias ambientais sustentáveis que visam à economia e ao reaproveitamento dos recursos naturais, incorporando saberes históricos dos grupos humanos, tanto o conhecimento universal como, principalmente, as sabedorias da população local. Integram-se, nesta opção de linha tecnológica, conhecimentos históricos e novas sínteses e descobertas científicas e tecnológicas do cotidiano, além de técnicas de gestão ambiental.

O público alvo do curso são profissionais, gestores e professores da educação nas escolas públicas e está previsto para um período de 18 meses.

+ Perfil do Profissional

Certificação, em nível de especialização, de profissionais da educação, como gestores e professores vinculados a escolas públicas do ensino médio, fundamental ou da educação infantil; ou ao ensino superior, servidores federais, estaduais ou municipais, cuja atividade inclua o trabalho com escolas, especialmente aqueles que trabalham com projetos e desenvolvem atividades que interferem na rede física da educação, ou pessoas da comunidade escolar que trabalhem, estudem ou tenham interesse pela temática do curso, tornando-os aptos a descrever, articular, compartilhar e conduzir processos de transformação das escolas em espaços educadores sustentáveis e/ ou de instituições e empreendimentos em espaços sustentáveis.

+ Objetivos Específicos

  1. Refletir sobre o ambiente escolar e as possibilidades em torná-lo um espaço educador sustentável a partir do estabelecimento e reconstrução das relações socioambientais entre a escola e comunidade;

  2. Discutir e demonstrar a importância de considerar os aspectos culturais e de bem-estar para entender as relações com o meio ambiente;

  3. Mobilizar a comunidade escolar, articulando os conselhos, assim como implantar uma Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-VIDA) nas escolas, como instrumento de gestão democrática e de planejamento participativo da transição para a sustentabilidade;

  4. Estimular e conceituar estratégias para qualificar o tratamento da educação ambiental nos currículos, de forma transversal e interdisciplinar;

  5. Estimular a escola a implementar e a participar de projetos que promovam a educação para a diversidade e a sustentabilidade;

  6. Planejar uma intervenção na escola para transformá-la em espaço educador sustentável, possibilitando ser referência de sustentabilidade para as comunidades onde se insere;

  7. Planejar, no caso de profissionais que não atuem diretamente no sistema de ensino, uma intervenção em estabelecimento ou processo referente a sua área de atuação que materialize os conteúdos de educação ambiental do curso possibilitando referencias de sustentabilidade socioambiental no território.

+ Objetivos Gerais

O curso tem por objetivo capacitar e certificar educadores e comunidade a transformar a escola em espaço educador sustentável a partir da articulação entre currículo, gestão e espaço construído, com enfoque interdisciplinar, crítico, emancipatório e fundamentado nos pressupostos de territorialidade, diversidade, inclusão e respeito a todas as formas de vida.

+ Metodologia

O curso organizado em disciplinas, na forma modular, desenvolvido na modalidade a distancia e momentos presenciais, com duração de 18 meses.

Utiliza a internet como meio de comunicação e informação em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) e a partir da interatividade entre os participantes, tutores e professores e também acesso ao material de apoio, especialmente desenvolvido por uma equipe de especialistas.

Sua proposta pedagógica está assentada na relação reflexão-teoria-prática, que expressa uma concepção de formação humana e de gestão educacional dentro dos marcos da democracia e da cidadania, buscando incentivar o pensamento crítico sobre a realidade socioambiental, tendo a escola como local privilegiado. Esse processo de formação implica na apropriação de meios, mecanismos e instrumentos que permitam intervenções satisfatórias na transformação das escolas em espaços educadores sustentáveis, a partir da compreensão do conceito de sustentabilidade.

Como trabalho de conclusão do curso, os participantes são orientados a desenvolver projetos de intervenção local, considerando a interação entre escolas e comunidades.

O produto final do curso é a apresentação de uma proposta de intervenção na realidade escolar, elaborada individualmente e em formato de um artigo científico e avaliado por uma comissão examinadora.